Ainda era manhã, eu estava tomando meu café com leite e observando, pela janela, o movimento da rua. Fazia Sol, mas algumas nuvens indicavam que o tempo ia mudar. Na mesa, a página em branco do notebook me encarava (e assombrava há semanas) e o cursor piscava impacientemente, como quem diz “vamos acabar logo com isso?”.
Esse fenômeno pode ter muitos nomes, mas acho que o diagnóstico mais comum é o temido bloqueio criativo. E, apesar de eu dizer para mim mesma que é só uma questão de tempo, afinal… o ócio criativo é importantíssimo, fica a dúvida: como superar o bloqueio criativo?
Escrever demanda tempo e uma boa (e sincera) conversa com o seu eu interior
Ok, vamos voltar ao básico: as melhores coisas da vida demoram. Você quer comer um bom risoto? Horas de preparação! Quer ver um bom filme? Ler um bom livro? Isso tudo demanda tempo.
O Tik Tok tem milhares de vídeos de 15 segundos, você perde horas preciosas no looping e não vê muita coisa que presta.
Nem vou entrar no clichê tempo é dinheiro (até porque mais do que dinheiro, tempo é vida). Mas tempo é tudo o que precisamos para produzir algo de valor. E, voltando aos vídeos de 15 segundos… até eles exigem dedicação e esforço de quem os cria.
Então, como poderia ser diferente com a escrita?
Para escrever é preciso entusiasmo, ânimo. A escrita não é uma arte mecânica: sentar, digitar e finalizar. Mas é isso o que temos feito (nós que trabalhamos com conteúdo).
Prazos, metas e deveres estão mandando nossa criatividade para longe.
Tolkien levou 16 anos para escrever O Senhor dos Anéis, mas queremos escrever best-sellers em uma semana. Será que somos super humanos ou temos um problema?
Segundo Ray Bradbury, precisamos alimentar a Musa. Quem? A Musa! Uma personalidade escondida no nosso subconsciente que surge sempre que escrevemos. Segundo o autor, é ela quem comanda nosso corpo e escreve nossas melhores histórias.
No entanto, a Musa é tímida. Ela não vem quando você quer ou quando você chama, ela vem quando você menos espera. É preciso estar preparado e deixar que ela apareça. Por isso, continue escrevendo (ou tentando) e alimentando sua musa com repertórios incríveis.
“A Musa precisa ter um formato. Você vai escrever mil palavras por dia por dez ou vinte anos para tentar lhe dar uma forma, aprender o suficiente sobre gramática e construção de histórias de modo que elas se tornem parte do Subconsciente, sem restringir ou distorcer a Musa.”
(PS: Ray, nós não temos 20 anos!)
Outro autor que trata sua criatividade por “musa” é Stephen King. Ele fala da importância de alimentarmos nossa musa e de desenvolvermos habilidades (através do treino constante) para que ela possa fluir.
There’s a lot of words to come out (mas o bloqueio criativo…)
Bombay Bicycle Club é uma banda inglesa de Indie Rock (minha trilha sonora de escrita). Ao falar sobre o álbum “So long, see you soon”, o vocalista e compositor Jack Steadman conta que viajou para a Índia em busca de inspiração.

Longe de querer compor músicas para Bollywood, o cantor alimentou sua Musa com cores, cheiros, lugares e experiências. Nas suas palavras, ele queria se sentir vivo. Durante sua estadia em Mumbai, o compositor passava horas no trem, observando a paisagem da cidade pela janela. Todas essas novas sensações o fizeram se sentir vivo e entusiasmado, tudo isso está refletido no álbum.
George Ezra passou um mês viajando sozinho pela Europa. Essa experiência o ajudou a escrever as músicas do seu álbum de estreia. Dennis Lloyd passou um ano em Bangkok escrevendo canções inspiradoras (questão de gosto, amigo).
O que todas essas histórias têm em comum?
Todos esses artistas estavam alimentando sua Musa. É claro que você não precisa pegar o primeiro avião para buscar inspiração (I wish I could), mas não se esqueça de que sua musa precisa de alimento e tempo para a digestão.
Bradbury conta que costumava sair a pé para longas caminhadas de madrugada. Em muitos desses passeios noturnos, a polícia o parava. Isso virou um conto. Assim como muitas outras experiências de vida.
King usa a analogia da carpintaria. Você precisa ter uma boa caixa de ferramentas com você (ou um bom repertório). Comece pelo básico: domínio da gramática. Avance! Aprenda sobre linguagem, estilo, use suas experiências pessoais e treine constantemente… Para o autor, escrever é como carpintaria, uma tábua (ou um parágrafo) de cada vez.
Para superar o bloqueio criativo (de uma vez por todas) e alimentar sua musa: observe tudo e todos, leia de tudo (e muito), viva e, claro, escreva até seus dedos ganharem calos.
Obrigada por ler!
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