Neste último ano, muitas pessoas se foram, e isso me faz pensar no fim da vida. Penso que a vida é como um livro, sei que é uma definição clichê, mas só consigo trabalhar com analogias baratas (e tudo bem!). A vida é uma história que vai sendo contada no compasso das batidas do coração, muitas vírgulas e travessões, mas só um ponto final.
Se você assina a minha text.letter, viu que tenho uma sessão chamada “ponto final”. Outro dia, enquanto escrevia a text (que é em formato de carta), fiquei pensando em como as cartas são importantes em nossa vida. Tá! Você vai me lembrar que ninguém escreve cartas hoje em dia… é verdade. Mas quando o peito aperta e o sentimento transborda, muita gente boa ainda busca refúgio na calmaria das palavras de uma carta sem destinatário.
É isso que vim fazer aqui hoje:
escrever uma carta sem destinatário
Eu poderia amaciar a verdade por trás disso tudo e dizer que essa é uma carta para as pessoas que já se foram. Mas isso não seria verdade, não é mesmo? Afinal, só podemos escrever para pessoas que podem ler. Dessa forma, estas palavras são para quem ainda está aqui.
Dizem que cancerianos são vestidos de sentimentos e banhados na intuição. Não sei dizer até que ponto isso tudo é verdade, porque inspirar o cosmos está mais para uma habilidade humana. É que foram pessoas de todas as casas do zodíaco que inventaram as histórias. Uma fofoquinha aqui, outra ali e logo tínhamos uma coleção de causos e de musicais cantados em mesas de tabernas.
Aliás, em sua grande maioria, esses contos servem para nos lembrar das pessoas que já não estão mais entre nós. E aqui, volto a dizer, a mensagem não se destina a quem se foi e, sim, a quem ficou. Uma lembrança da brevidade da vida, de que apesar das vírgulas e das aspas, sempre haverá um ponto final.
Mesmo com todos esses avisos, parece que o ser humano desenvolveu um mecanismo congênito:
a capacidade de ignorar completamente o desfecho final (de tudo)
E acredito que isso é, de certa forma, uma coisa boa. Viver o hoje é a melhor coisa que podemos fazer em nossas vidas! Só que não é para isso que estamos usando a nossa capacidade de esquecer do futuro. Na-na-ni-na-não.
Vejo muita gente usando a desculpa do amanhã para deixar pendências que, provavelmente, nunca serão resolvidas. Palavras e abraços que nunca encontrarão seu destinatário, sentimentos que sufocarão por dentro e entrarão em erupção quando for tarde demais.
Sabe, tive a triste oportunidade de estar perto de uma pessoa que perdeu três irmãos em menos de um ano. Antes que você queira saber, não foi Covid. Mas isso realmente importa? Taí, outra coisa esquisita… se não foi disso, machuca menos? Acredito que não. Afinal, estamos falando sobre pontos finais e não sobre a cor da caneta. Estamos falando sobre colocar os pingos nos “is” antes de virar a página. Estamos falando sobre a vida não permitir releituras, não importa o quanto você queira.
Quando eu era criança, tinha um caderninho (vários, na verdade) de poemas e anotações aleatórias. Escrevia coisas como “viva como se fosse o último dia”, “é melhor se arrepender das escolhas que você fez, do que das escolhas que não fez”. Ao longo da minha (ainda breve) história, tentei viver todos os ditados clichês que marcaram os meus dias mais ensolarados. Mas se a gente olhar bem direitinho…
sempre tem uma nota de rodapé pela metade
É claro que isso tudo (e a leitura dos romances mais clichês da biblioteca) me ajudou a perceber que não se pode deixar para amanhã o “obrigada” que a gente deveria dizer hoje. Amanhã um de nós dois pode concluir sua história. Pior para quem fica e perde a oportunidade de concluir esse crossover.
Por isso, certas coisas não devem ser deixadas para amanhã. Na verdade, nada deve! Deixar para amanhã é uma das coisas mais tristes que eu já tive a oportunidade de viver… acho que nunca conseguirei superar isso. Se você quer trilhar novos rumos e desbravar oceanos, tem que começar agora. O momento certo para dizer “eu te amo” é imediatamente. O dia perfeito para ser feliz é hoje.
Para finalizar, deixo uma sugestão: escreva sua própria carta sem destinatário. Quem sabe, a coragem para verbalizar palavras difíceis não nasça entre uma linha e outra?
Obrigada por ler!
Espero que isso faça sentido para você.
De vez em quando, acabo voltando para este texto escrito pelo Fred Mattos: O que falar para alguém que está prestes a morrer? Ah! Se você se animar e decidir começar um blog, leia este artigo.
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