Escrever é uma arte, das mais generosas que existem

Escrever é uma habilidade que pode ser aprimorada com o tempo, não é necessário nascer com talento para isso. Para se tornar um bom escritor, basta escrever muito.

ESCRITA CRIATIVA

Lori Sato

8/8/20233 min read

Recentemente, tive o prazer de assistir a uma live do Rodrigo Simonsen em que ele afirmou que a escrita é a mais generosa das artes. Apesar de todas as outras coisas interessantes abordadas, essa frase me pegou de jeito: afinal, escrever é uma arte?

Sim! Disso, ninguém duvida. Mas seria ela a mais generosa? Não é fácil concluir um artigo. Da introdução até a conclusão, a gente pode se perder completamente (nem vou entrar na questão do analfabetismo no Brasil). Tem gente que foge do tema escrevendo post no Instagram, imagina escrever um romance inteirinho?

O que ele quis dizer foi que, a escrita é generosa porque qualquer pessoa pode escrever um texto e publicá-lo. Na verdade, você já deve ter pensado “poxa, esse livro está mal escrito”. Mesmo assim, lá está: publicado, transmitindo uma mensagem. Talvez você tenha escrito um artigo ou um post que repercutiu muito bem porque a mensagem era importantíssima, mas, tecnicamente, não foi o seu melhor texto.

Para entender melhor porque a escrita é uma arte (e das mais generosas), continue lendo.

Primeiro, o que é arte?

Nós estamos tão acostumados com alguns conceitos que, às vezes, não paramos para pensar em seu significado. Por exemplo, o que é arte? Essa palavra tem origem no latim “ars”, que significa habilidade.

Platão tratava a arte como uma representação ou imitação, a mimesis. Já o movimento romântico do Século XVIII e XIX, via arte como uma forma de expressão, algo marcado pelo sentimentalismo e pela subjetividade. Os dadaístas, por sua vez, acreditavam que fazer arte era buscar o antirracional.

Como você pode ver, a noção de arte tem mudado ao longo do tempo, ainda que continue conectada com aquele sentido de fazer algo.

Enquanto pesquisava referências para dar vida a esta obra de arte, vulgo “este artigo que você está lendo”, abri uma caixinha no meu stories (@lori.sato) com a seguinte pergunta: o que é arte para você? A maioria das respostas afirmou que arte é sentimento.

Claro que isso não foi nenhuma surpresa. Concordo totalmente. Na verdade, levo tão a sério que, ouso dizer, alguns dos meus textos foram escritos com o coração e não com a cabeça (como esse aqui).

Porém, uma resposta chamou a minha atenção. Uma amiga está lendo “1984”, do Orwell, e lembrou que, no romance, os livros são escritos por máquinas. Nesse caso, ainda seria uma obra de arte?

Quem debate essa questão é o historiador Yuval Harari. Em Homo Deus, ele traz o mesmo questionamento: será que a música e as histórias inventadas pela máquina são obras de arte? Um estudo pediu que as pessoas identificassem, dentre duas opções, qual música havia sido composta por uma máquina. Resultado? A maioria não conseguiu.

Quem disse que escrever é uma arte?

(...) o significado consciente de um poema não tem tanta importância. (...) O impacto de sua poesia nas entranhas, no sistema nervoso e no inconsciente é o que o interessa acima de tudo”. - Terry Eagleton

Não sei quem foi o primeiro a afirmar que escrever é um arte, o fato é que a maioria das pessoas entendem dessa forma. É claro que, assim como o desenho pendurado na geladeira (feito pela sua sobrinha) só tem valor artístico para você, nem todo texto é arte… pelo menos para o público geral!

Mas todo texto tem (ou pode ter) um papel transformador

Inclusive, ele é, normalmente, a forma mais democrática e mais acessível de publicar novas ideias e valores. A história está cheia de exemplos importantes, como a tradução bíblica de Martinho Lutero e o Manifesto Comunista, de Engels e Marx.

Aliás, a arte tem um importante papel questionador e sempre foi usada como meio de protesto. Isso significa que a mensagem é tão ou mais importante do que a forma. Nesse sentido, Graciliano Ramos dizia que:

A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer”. - Graciliano Ramos

Por isso, ela pode, sim, ser considerada generosa. Afinal, você não precisa ser o próximo Machado de Assis para publicar seus textos. Escrever nos permite ser quem somos, com toda a nossa imperfeição. Nem todo livro publicado tem o objetivo de se tornar um clássico literário, o objetivo é dizer alguma coisa.

Escrever não exige habilidades natas, você pode aprimorar sua escrita começando hoje. Para escrever bem, basta escrever. Escreva muito! Não é preciso um monte de equipamentos, papel e caneta podem te levar longe. Jack Kerouac escreveu 400 páginas sem parágrafos, um best-seller atemporal e revolucionário!

"Se a vida é saga, o amor é sacro/ Arte, arte, arte/ Arte sem se ver, igual presente grego"- Sant, Fazendo arte.

Lori Sato