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Dias difíceis? A escrita terapêutica pode melhorar as coisas

Escrever pode ser um exercício de autoanálise. Ao escrever sobre nossas experiências, experimentamos novos sentimentos e organizamos nossas  ideias. Usamos a palavra como forma de expressão.

Freud e Jung desenvolveram a psicoterapia, que é uma terapia baseada na fala. Eles acreditavam que, ao falar sobre si, o paciente adquiriria mais clareza sobre seus sentimentos e emoções. A psicanálise é a “cura pela fala”.

A mesma coisa acontece com a escrita terapêutica. Ao escrever, você pode refletir e ressignificar vivências. É um processo de compreender os acontecimentos e, ao mesmo tempo, um exercício de autoconhecimento.

Este artigo não tem pretensão de ser uma análise comparativa sobre terapias, muito menos ser uma referência no assunto — deixo isso para pessoas mais entendidas. Só quero demostrar como a escrita pode ser um raio de Sol em meio a um dia nublado. Vem comigo 😉

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Escrever pode ser uma terapia. Foto original: Vlada Karpovich

Um diário para começar

Sabe aquela história de que quando “olhamos de fora” as coisas são mais simples? Podemos usar a escrita como um meio para ver as coisas de outra perspectiva. Sou redatora, mas minhas primeiras obras literárias foram os diários.

Não lembro quando escrevi meu primeiro desabafo, mas lembro de uma época em que isso era uma parte importante do meu dia. Foi naquela fase terrível chamada adolescência, lembra? 

Inclusive, quem leu “O diário de Anne Frank” deve ter se surpreendido com o fato de que sua autora tinha apenas 13 anos, mas escreveu reflexões profundas sobre a humanidade. É verdade que ela estava testemunhando um dos períodos mais horripilantes da história do mundo, ainda assim… era só uma criança.

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Foto: Lucas Souza

Você se lembra dos seus 12 anos? Lembra das suas preocupações? Anne Frank só estava escrevendo sobre seus sentimentos, seu medo de passar a adolescência presa em um sótão, de morrer sem ter se apaixonado e sobre não aguentar mais comer batatas. Mesmo assim, seu diário é “um dos livros mais lidos do mundo”, capaz de levar qualquer pessoa às lágrimas. 

Em uma das minhas mudanças, encontrei antigos diários. No meio de paixonites e birras, algumas reflexões sobre a vida que surpreenderam o meu “eu adulto”. Não importa a idade, nós sentimos (e muito!). Quando colocamos esses sentimentos no papel, abrimos espaço para pensar, organizar e refletir sobre nossas emoções e percepções.

Tem coisas que a gente não consegue falar. Porque tudo precisa ser tão claro? Como explicar para os outros sentimentos que eu ainda não entendo?”.

Diário – Lori Sato.

Escrita terapêutica é sobre assimilar

Um diário não é uma obra de arte que será exposta nas bienais. Até pode vir a ser, até citei um diário famoso ali em cima, mas não é isso que deve nos motivar a escrever.

Um homem vestido de astronauta segura uma placa em que se lê "Mars" e sinaliza um pedido de carona.
Foto: Tom Leishman

Quando as pessoas escrevem sobre si mesmas, colocando suas experiências e seus sentimentos em evidência, este ato permite, de uma nova maneira, identificar e “sentir” estes sentimentos”.Benetti e Oliveira (texto na íntegra aqui).

Escrevemos sobre nossas experiências para que possamos assimilá-las. Dessa forma, nos permitimos reviver aquela emoção sem a pressão do momento. Assim, conseguimos fazer uma avaliação mais objetiva e racional do que passou.

É tão importante compreender nossas emoções que, com isso, nos tornamos emocionalmente estáveis e mais empáticos. Pode ser difícil, chato ou até desconfortável escrever as primeiras linhas, mas fica mais fácil e prazeroso com o tempo. Quando releio as palavras que escrevi há tempos, sinto orgulho da minha capacidade de analisar e evoluir.

Eu fico lembrando do ‘Lucas, no mundo da Lua’. É assim que eu me sinto. Com fones de ouvido, sentada numa banheira vazia, completamente vestida, em uma estação planetária que fala com seres de outros planetas”.

Diário Lori Sato.

Quando existir é suficiente

O título acima é uma frase retirada do meu diário. A data é recente, março de 2021. A pandemia completava um ano, mas a sensação era de que tinha passado cem! Eu estava cansada, mentalmente exausta. Lembro de me sentar e não querer escrever absolutamente nada. Afinal, “tem dias que existir é suficiente”.

Após escrever essa frase e destacá-la com grifo amarelo, comecei a pensar nos motivos que me levaram até esse sentimento. Não era um caso de depressão, era cansaço. Muita coisa tinha acontecido desde que a pandemia começou.

Ao colocar tudo isso em palavras, foi possível entender melhor os motivos daquela sensação. Até aquele momento, eu nem sabia que precisava disso. Comecei a escrever e as palavras pareciam fluir, eu tinha muitas coisas para falar. 

Acontecimentos banais, como uma visita indesejada, podem nos fazer revisitar sentimentos que nem sabíamos existirem. Virginia Woolf, escreveu vários diários (além de muitos romances). Entre acontecimentos de menor importância e coisas do dia-a-dia, percepções valiosas sobre a vida.

A escrita nos ensina a olhar para dentro e compreender os sentimentos que ficam entalados dentro da gente. Se não os colocarmos para fora, eles vão nos implodir

Tentando encontrar um rumo que seja meu, por escolha e por direito. Porque a cabeça alheia não conhece os limites do meu corpo, nem a coragem do meu coração”.

Diário – Lori Sato.

Depois deste artigo, espero que você se sinta mais disposto a escrever. Não precisa começar um livro (mas pode, tudo é permitido hehe), apenas se permita tentar a escrita terapêutica. Quem sabe começar um diário o ajude a perceber que coisas maravilhosas e brilhantes acontecem dentro dessa sua mente singular? 

A escrita é uma terapia. Este artigo é o depoimento de uma redatora que ama ler, escrever e que achou um pouco de paz ao juntar letrinhas. Espero, sinceramente, que você encontre um pouco dessa paz também.


Obrigada por ler. Agora que você está pensando em começar um diário (não está?) para chamar de seu e, quem sabe, vai querer anunciar para os sete mares (um corajoso entre nós), leia: Tudo sobre blogs.


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